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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013


Quando a menina, por fim, está deitada na cama
- oiço-a bater por acidente com a cabeça nas grades de madeira –,
não preciso de certificar-me que dorme e ninguém me vê.
Na sala deixo o televisor ligado;
despisto o silêncio com reclames espalhafatosos no volume mínimo
e nem assim evito pôr-me a chorar.
Na sala onde ninguém me pode ver há uma varanda.
A vizinha de cima deixou cair uma cigarrilha acesa
no exacto momento em que decidi recomeçar a fumar.
Interpreto literalmente como um sinal vindo de cima; acendo o cigarro, desato a fumar.
(Uma mota arranha de passagem o silêncio)
Gosto do tabaco; mesmo com o sabor das lágrimas e do renho à mistura.
Sempre faz mais companhia que os reclames; é uma coisa que se faz com contacto físico.
Na varanda onde se eu der grito alguém pode reparar,
debruço-me no parapeito e cuspo.
Não há ninguém para acertar; é noite e ninguém passa por aqui.

1 comentário:

  1. se vivêssemos só da abstração das coisas físicas seria mais doentio. Precisamos tanto do toque, apercebo-me disso todos os dias.

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