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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Dejá vu repetitivo ou processo de criação



Li algures que as conversas têm três níveis: pessoas, factos ou ideias, embora a maior parte das vezes não se passe do primeiro nível. Acredito piamente que a nossa identidade reside sobretudo na palavra e na sua enunciação, pois só aqui se nos coloca o conceito da verdade, não se diz falso o ladrar de um cão ou o chilrear de um pássaro, mas à palavra cabe-lhe essa tarefa árdua de encontrar o puro. (...)Repetir é recordar para a frente e para trás mija a burra(...) José Maria Vieira Mendes in A Minha Mulher. Podemos constatar que é através do processo de repetição que o Homem cria e valida a sua identidade. Se não repetissemos os mesmos gestos e entoações como poderiam(os) reconhecer-nos? O mesmo se passa com a História, os acontecimentos trágicos ou "eufóricos" não são meros dejá vus repetitivos? E não continuamos a cometer consecutivamente os mesmos erros? Segundo Slavoj Zizek, o processo de aparição/criação é produto de um mero engano e (digo eu), o erro só surge quando tentamos repetir algo. O mesmo sistema de repetição se aplica ao actor e ao processo de interiorização e vivência de um texto. Só pela repetição chegamos mais longe, ao erro, ao nosso "eu" mais interior e que até à data se tinha revelado inacessível.