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segunda-feira, 30 de julho de 2012


Duna, estaria no silêncio do hospital, como se os técnicos de bata branca, coreografassem diagnósticos para si. Heinrich sentiu-se contente, por Duna não poder partilhar do ruído dos homens, da máquinas, de tudo, e ter o privilégio de usar outros sentidos para escutar, sem ser pelos ouvidos. Não havia coisa mais enganadora, do que usar - como nos forçaram a crer -, os sentidos correspondentes, e tornar todas as percepções em coisas normalizadas. 
in Disparar Sobre os Humanos 

terça-feira, 24 de julho de 2012


Quando Alba era mais nova - pelo menos até ao final da adolescência -, a aquisição de coisas, era a forma de tentar atingir um determinado ideal. Como se houvesse alguma ideologia nas coisas e esta contaminasse a pessoa que as adquire: um casaco comunista, uma estola de direita, ou mesmo, quem sabe, umas sandálias anarquistas. Material altamente virulento, portanto.
Agora que amadurecera, Alba, acreditava na inocuidade das coisas.  As ideias dos humanos é que estavam pesteadas.

in Disparar Sobre os Humanos

segunda-feira, 23 de julho de 2012


Heinrich Zimmer estava convencido de que o pai nunca o amara, pois só assim explicava, a sua frieza para consigo. O mais estranho, é que essa era a única qualidade, que ele apreciava no pai: a transparência. Mesmo sendo seu pai, apesar de ser seu pai, era incapaz de lhe dar afecto, só por obrigação desse laço parental, e Heinrich, agradecia-lhe essa verticalidade.

in Disparar Sobre os Humanos 

terça-feira, 17 de julho de 2012


Heinrich, ao contrário do seu pai, achava que a natureza do homem era tendencialmente má, pois os homens que eram bons, eram-no, apenas porque não tinham coragem suficiente, para serem o que sonharam para si. Ele não suportava a extrema benevolência, com que o seu pai – e a maior parte das pessoas que conhecia -, observava os horrores do mundo, e os comentava como se não fosse nada consigo, como se aquele Homem, não correspondesse a si próprio também. Thomas Zimmer tinha uma tendência para desvalorizar as barbaridades cometidas pelos homens:
“O homem é mesmo assim, só pára de fazer merda, quando o cheiro 
se torna demasiado insuportável.”


in Disparar Sobre os Humanos 

quinta-feira, 5 de julho de 2012


Franz estancou a olhar para a prostituta Hela, estranha e esguia, que lhe tocava ao de leve o enchumaço. Franz sentia-se ameaçado. O seu pai voltou a falar alto:
  "Se precisares de ajuda, entro convosco e mostro-te como é que se faz. Conheço bem os cantos da casa da Hela."
Hela, agarrou então Franz pela mão, e encaminhou-o para o quarto. "Não tenhas medo. Vais gozar, vais ver." - murmurou-lhe antes de fechar a porta.
Franz completava treze anos nesse dia, e Hela, mal ou bem, e por breves instantes, tinha-o feito gozar. Hela cheirava a fêmea, o que quer que seja que isto signifique. 
Franz saiu do quarto, com uma satisfação recente, mas foi novamente confrontado com o sarcasmo do pai:
"És mais rápido do que um tornado. Pena é que tenhas sido tu a ficar desfeito." 
    in Disparar Sobre os Humanos.


segunda-feira, 2 de julho de 2012

Se Luc resolvesse fazê-lo, se tivesse coragem de apontar a arma à mulher gorda, esta passaria a ver a vida de outra forma, pelo menos nos breves dias que se seguissem. Depois, não muito depois, a gorda voltaria, certamente, ao marasmo habitual. Os humanos nunca mudam e aborrecem-se a maior parte do tempo, os momentos de excitação e alívio, rareiam nas suas vidas.