quero estar sentada em cima da terra
nua
para que a sinta áspera
dura e húmida
para que a possa arranhar com os dedos dos pés
o chão de calhaus e lama
vou escavando aos poucos um fosso
entre o meu rabo e o centro do mundo
e as minhas unhas enchem-se de vermes
ternamente
eu sou o meu rabo
não é o umbigo que determina a personalidade
é o rabo que mostra que sou besta
animal enfeitado de trapos
disfarçada de pêlos e de pele
sapatos óculos escuros
ninguém repara que a alma é uma anomalia no reino animal
ou alguém espera reencontrar o peixinho vermelho no paraíso?
as escamas são a pele dos bichos cuja memória não lhes permite ter deus
Cláudia Lucas Chéu in Revista Inútil #3