Quando
a menina, por fim, está deitada na cama
-
oiço-a bater por acidente com a cabeça nas grades de madeira –,
não
preciso de certificar-me que dorme e ninguém me vê.
Na
sala deixo o televisor ligado;
despisto
o silêncio com reclames espalhafatosos no volume mínimo
e
nem assim evito pôr-me a chorar.
Na
sala onde ninguém me pode ver há uma varanda.
A
vizinha de cima deixou cair uma cigarrilha acesa
no
exacto momento em que decidi recomeçar a fumar.
Interpreto
literalmente como um sinal vindo de cima; acendo o cigarro, desato a fumar.
(Uma
mota arranha de passagem o silêncio)
Gosto
do tabaco; mesmo com o sabor das lágrimas e do renho à mistura.
Sempre
faz mais companhia que os reclames; é uma coisa que se faz com contacto físico.
Na
varanda onde se eu der grito alguém pode reparar,
debruço-me
no parapeito e cuspo.
Não
há ninguém para acertar; é noite e ninguém passa por aqui.