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segunda-feira, 1 de março de 2010


fiz sempre questão de cortar o cabelo no barbeiro onde iam os meus primos, bem curto e rente à nuca, nunca quis ser distinguida por atributos físicos. durante muito tempo, achei-me capaz de fazer tudo e de todas as maneiras, não havia impossibilidades para mim.
combinámos encontrar-nos às cinco e um quarto no corredor da casa da avó, mesmo por detrás do bengaleiro, junto à parede. e assim foi, perguntei à minha mãe que horas eram, pois ainda não sabia ler as horas em forma de números, confirmado o tempo exacto lá me dirigi para o corredor. ele já lá estava escondido atrás do casaco de malha azul escuro da avó e eu esgueirei-me para debaixo do kispo do pai pendurado ao lado da malha da avó. somos duas crianças em forma de agasalho, então o que fazemos, perguntei eu, já tenho as chaves do carro, disse-me ele, mas tu sabes conduzir, pergunto novamente eu, claro, aprendi com o meu pai, e então, digo eu, então vamos fugir desta casa, diz ele, mas para onde, pergunto eu, vamos até à praia e depois logo vemos, eu penso. debaixo do kispo do pai, sinto-me a rebentar de adrenalina. imaginar um futuro onde só eu é que sei, eu decido, eu escolho e tantos eu-sítios por descobrir. só eu e o primo joão. e cinco anos de existência ingénua.