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domingo, 7 de fevereiro de 2010


o trânsito a andar e ele a conduzir com a ponta dos dedos. só com a pontas dos dedos. um taxista sensível, pensei, delicado. tinha um gorro verde de lã enfiado pela cabeça abaixo, um cachecol e um kispo, apesar do ar condicionado ligado no quente. não estava frio, sequer. o rádio do carro, desligado e ele lá ia acelerando pelo silêncio da cidade. eu ia sentada atrás, calada, a observar esta criatura toda tapada de lãs, que agarrava o volante na ponta dos dedos.

depois, o trânsito começou a entupir as vias e o taxista sensível, olhou para mim pelo espelho retrovisor. "as unhas estão a cair-me" e eu nada. "estive em quimioterapia durante um ano, mas tenho que trabalhar" e eu, pois. "tenho dois filhos: um com quatro e outro com doze e uma mulher com menopausa na cabeça" e eu, isso é que é pior. "o que mais me custou foi ver o pequenino a olhar para mim e a perguntar-me porque é que eu estava careca" e eu, silêncio absoluto, a olhá-lo nos olhos plo retrovisor. e ele a encher-se de lágrimas no abismo do olhar. e eu a apertar os dedos contra a napa do banco.

deixou-me à porta de casa. não pus a chave na fechadura. fui à mercearia comprar pão.