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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009



Ana é a minha amiga capicua. Nasceu um mês depois de mim, mas é mais alta e tem mais cabelos brancos. Ana é silenciosa, sensata e bonita. Dormimos muitas vezes juntas e ela costumava ficar a olhar para mim enquanto adormecia. Às vezes tinha medo.

Vejo nela o meu crescimento e o meu envelhecimento. Ana é um espelho da minha imagem, porque nela consigo ver o que já fui, o que sou agora e que afinal é tudo a mesma coisa. As primeiras rugas: a nossa cara está a ficar amarrotada pelos dias que passam. Não nos vemos muito, apesar de morarmos perto. Não sei se penso nela, se me lembro dela, acho que faz parte de mim de uma forma intrínseca, como uma irmã. Foi nela que nasceu para mim a palavra ternura, um sentimento pueril que senti existir entre nós.

Um dia, bebemos demais e ficámos deitadas num passeio a tirar fotografias conjuntas e a rir. Caladas. Como no dia em que fiquei na sua casa a chorar no quarto ao lado do dela por já ser tão grande. Chamo-lhe amiga capicua pelo enigma que representam os seus olhos e por ser igual estar perto dela no principio e suponho que no fim das coisas.

3 comentários:

  1. Ah.. Cruel saudade que não me deixa esquecer uma distante amizade

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  2. Tu tens um melro que é um achado. À noite canta e de dia cuida o ninho. O verbo cuidar que te encaixa tão bem. Sim, tu cuidas.
    A velocidade da saudade que te rasga seja qual for a tua idade. dade. dade. dado. Dado. Não achado.
    Lança o dado. Se lançares o que te foi dado, vais atrair o pecado.
    O que é meu é teu.
    Um, dois, três, lá vou euuuuuuuu.
    Ficas tu a contar. Tu contas, mas alto.
    Moi.1H

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