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segunda-feira, 22 de março de 2010


Os homens a descalçarem as galochas e o vento a zunir contra a proa do barco. Mais uma noite de Verão no mar, de volta à terra já na madrugada, exaustos. Uma peixeira esguia sentada no pontão à espera. Está zangada com a vida que lhe trocou as voltas à morte. A janela da princesa acesa e há outras peixeiras insultando a umbreira da porta. A grande puta, viajou, mas a emigração celeste afinal não foi definitiva. Um sono profundo e escuro como a morte, mas afinal havia ainda vida. E os homens a chegar do mar. As Penélopes enraivecidas com esta Helena de plástico, de seios hirtos e acolhedores de maridos. Antes do sono hospitalizado, Alice dormiu com todos os homens da vila. E agora regressada da morte, aliou beleza ao sagrado de estar viva. Agora a eleita pela natureza, também o será pelos homens, descarregando navios de sexo faminto no seu sexo puro.
A peixeira esguia abraça o seu homem com força e sussura-lhe ao ouvido:
" Ela, afinal não está morta." Os homens do mar sorriem a medo, em segredo, em surdina. Vêem a luz acesa. Há um farol de espanto, nos olhos esbugalhados de cansaço. E de novo a gritaria das peixeiras: "Puta puta puta, lá porque ressuscitaste, não és santa. Sai desta terra. Mata-te."

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